Monday, August 31, 2009

Sometimes its not good to link particular physical feature to the intrinsic quality of the observed object...


An idealist is one who, on noticing that roses smell better than a cabbage, concludes that it will also make better soup. H. L. Mencken.... Roses or cabbages?

Saturday, August 29, 2009

Excerpt from Washington's Farewell Address 1796



Friends and Citizens:

"For this you have every inducement of sympathy and interest. Citizens, by birth or choice, of a common country, that country has a right to concentrate your affections. The name of American, which belongs to you in your national capacity, must always exalt the just pride of patriotism more than any appellation derived from local discrimination. With slight shades of difference, you have the same religion, manners, habits, and political principles. You have in a common cause fought and triumphed together; the independence and liberty you possess are the work of joint counsels, and joint efforts of common dangers, sufferings, and successes.

But these considerations, however powerfully they address themselves to your sensibility, are greatly outweighed by those which apply more immediately to your interest. Here every portion of our country finds the most commanding motives for carefully guarding and preserving the union of the whole."

Randomness of life decisions


This morning reading a excellent book called Fooled by randomness I realized that Buridan paradox, that was first mentioned by Aristotle's De Caelo,is what makes the difference between success and failed in our random society..

The paradox illustrates how life put us in situations like the very hungry and thirsty donkey located exactly halfway between water and the hay . If randomness takes us closer the one over the other we succeed because the decision becomes easier, but sometimes life keep us immobilized than we fail to make a decision and "starve to death".

Tuesday, August 25, 2009

Lockerbie: um epitáfio by João Pereira Coutinho


Lockerbie: um epitáfio

LISBOA - É sempre comovente ver um terrorista regressar a casa. Uns dias atrás, pela BBC, assisti ao espetáculo: Abdel Basset Ali Al-Megrahi foi saudado como um herói pela população enlouquecida de Trípoli, capital da Líbia. Entendo o entusiasmo. Al-Megrahi foi condenado a prisão perpétua pelo envolvimento no atentado terrorista de Lockerbie (um avião, 270 vítimas). Julgamento internacionalmente reconhecido como justo e conclusivo. Al-Megrahi cumpriu oito anos de pena.

Agora, por motivos "compassivos", o governo escocês, que é soberano em matéria judicial, resolveu libertá-lo. O terrorista está doente, com câncer terminal, disse o ministro da Justiça. Na melhor das hipóteses, tem três meses de vida. Sejamos humanos.

Eu sou humano. Mas minha humanidade, normalmente, está com as vítimas, não com os carrascos. Deformação de caráter, admito, que me transforma num verdadeiro Torquemada: ao ver Al-Megrahi recebido como um herói na Líbia, imaginei de imediato o que estariam a sentir as 270 famílias que viram os seus familiares pulverizados no ar, em dezembro de 1988. Sim, sou um monstro.

Verdade que não estou sozinho. O governo de Gordon Brown condenou a libertação. Santo Obama também, e com linguagem particularmente dura. E começaram as especulações sobre os verdadeiros motivos do gesto. Terá sido por razões "compassivas", como disse o ministro Kenny MacAskill? Ou, horror dos horrores, a libertação de Al-Megrahi faz parte de um negócio vantajoso para a Líbia e para o Reino Unido?

O próprio Gadaffi (filho) confirmou a suspeita, ao afirmar expressamente que a libertação de Al-Megrahi libertava também o petróleo e o gás líbios para empresas ocidentais, a começar pelas britânicas, que já esfregam as mãos de contentamento. Verdade? Mentira? E isso interessa?

Obviamente, não interessa: criada a suspeita, reforçada pela implacável imprensa britânica que tem revelado os encontros "comerciais" de Blair com Gadaffi (pai) na última década, a libertação de al-Megrahi tem importância simbólica. Os soldados britânicos podem lutar e morrer nas areias do Oriente Médio. Mas a libertação de um só criminoso será vista pelos inimigos do Ocidente, não como um gesto "humano" e "compassivo"; mas como uma manifestação de cobiça, um ato de traição às vítimas e uma postura de rendição perante os agressores. Eis a imagem do nosso epitáfio

A Origem do Estado by Rodrigo Constantino


A Origem do Estado

Rodrigo Constantino

“Poucas pessoas são motivadas a questionar a legitimidade das instituições estabelecidas.” (George H. Smith)

O Estado tem sua origem na conquista, e se mantém através da exploração. Eis a tese que Franz Oppenheimer defende em seu livro The State. Essa tese encontra eco em diferentes autores, incluindo Nietzsche, que acreditava que o Estado se origina na forma mais cruel de conquista. David Hume notou que muitos se submetem ao governo que se encontra já estabelecido no país onde vivem, sem pesquisar com muita curiosidade as origens de seu estabelecimento inicial. Poucos governos suportariam um exame rigoroso deste tipo. Com o tempo, o governo irá adquirir uma áurea de legitimidade, e a maioria das pessoas vai obedecê-lo por puro hábito. O consentimento é possível somente quando há escolha, e nenhum governo pode permitir que a obediência seja uma questão de escolha.

Para Oppenheimer, existem basicamente duas formas de organização da vida social: o meio econômico, que é pacífico por depender de trocas voluntárias; e o meio político, que é baseado na dominação e, portanto, é essencialmente violento, por ser uma apropriação não solicitada do trabalho dos outros. O Estado surgiria numa sociedade quando algumas pessoas utilizam os meios políticos para vantagem própria. Essas pessoas estariam numa situação vantajosa para forçar certas ações aos demais, e as relações passam a ser calcadas em subordinação e comando. O Estado seria então o primeiro de todos os aparatos de dominação. Independente do desenvolvimento desse Estado, Oppenheimer repete constantemente que sua forma básica e sua natureza não mudam. Desde o Estado primitivo feudal até a constituição moderna do Estado, ele ainda é a institucionalização dos meios políticos por um determinado grupo para expropriar a riqueza econômica de outros.

Parece auto-evidente que em qualquer grupo de pessoas, grande ou pequeno, existe a necessidade de uma autoridade que julga conflitos e, em situações extraordinárias, assume a liderança. Mas para Oppenheimer, essa autoridade não é o Estado, no sentido que ele usa a palavra. Ele define Estado como uma organização de uma classe dominante sobre outras classes. Esta organização de classes pode surgir somente através da conquista e subjugação. A formação de classes em tempos históricos não ocorreu através de gradual diferenciação na competição econômica pacífica, mas foi o resultado de conquista violenta. A idéia comum entre burgueses e socialistas estava no conceito do Estado como uma “coleção de privilégios” mantida em violação à lei natural, enquanto a sociedade era vista como uma forma de união humana em conformidade com a lei natural. Os senhores feudais, em contrapartida, desejavam manter o status quo, o uso do aparato estatal para seus próprios interesses.

Em todos os lugares onde o desenvolvimento de tribos atingiu uma forma mais elaborada, segundo Oppenheimer, o Estado cresceu pela subjugação de um grupo por outro. Sua justificação básica, sua raison d’etre, estava e está na exploração econômica desses subjugados. Os nômades conquistavam grupos e mantinham escravos. Eles foram os inventores da escravidão, e, portanto, plantaram as sementes do Estado, a primeira exploração econômica do homem pelo homem. Fazia mais sentido poupar os inimigos capturados e usá-los como escravos no pasto, daí a transição da matança dos vencidos para sua escravização. Com a introdução de escravos na economia tribal das hordas, os elementos essenciais do Estado já estão presentes, exceto a delimitação dos limites territoriais. O Estado aparece como uma forma de domínio, e sua base econômica é a exploração do trabalho humano. Sempre que a oportunidade aparece, e o homem possui a força para tanto, ele prefere o meio político ao econômico para preservar sua vida.

Após a conquista, os estágios diferentes vão gradualmente levando a uma mudança de percepção dos conquistados. Eles começam a se acostumar com a horda conquistadora, e passam a vê-la como seus protetores em relação às ameaças externas. Os hábitos vão se misturando, a língua vai virando uma só, e surge o sentimento de unidade, que cresce com o sofrimento comum, a vitória comum, a derrota comum. Ambos os diferentes grupos étnicos acabam juntos numa mesma terra, e as disputas que surgem com outros clãs ou outras vilas fortalecem esta união. Os senhores assumem o direito de arbitrar, e quando necessário, forçar seu julgamento sobre os servos. O conceito de nacionalismo vai evoluindo, e aparece a necessidade cada vez mais freqüente de interferir, punir ou exigir obediência pela coerção. Assim se desenvolvem os hábitos que serão utilizados pelo governo, conforme explica Oppenheimer.

O interesse comum em manter a ordem e a paz produz um forte sentimento de solidariedade, que pode ser chamado de uma consciência em pertencer ao mesmo Estado. O homem passa então a racionalizar tal desejo, e justifica a moralidade do método político usado para a formação do Estado. O grupo que controla o meio político passa então a desfrutar de certa legitimidade.

Não é preciso concordar com toda a teoria de Oppenheimer sobre a origem de Estado para perceber que este irá sempre ser sinônimo de coerção, de força. Enquanto o meio econômico é o meio das trocas voluntárias entre indivíduos, o meio político é o meio da imposição através do monopólio do uso da força. Quando estudamos casos históricos de Estados e suas origens, esta noção fica mais clara ainda. Portanto, o ideal será sempre tentar reduzir ao máximo possível a esfera política, o poder do Estado e seu escopo, cedendo o máximo de espaço possível ao meio econômico, pacífico por definição. Qual é este limite para a ação do Estado é algo que está aberto ao debate, mas somente um ódio muito grande da liberdade pode explicar a defesa de um tamanho acima do mínimo possível para garantir a paz e a ordem, assim como as liberdades individuais. Se Estado é força e sua origem está na conquista, defender o menor tamanho possível para este “monstro” é dever de todos aqueles que amam a liberdade.

Sunday, August 23, 2009

ÉTICOS PROFISSIONAIS, CORRUPÇÃO E POLÍTICA by Reinaldo Azevedo

Vejo que alguns analistas políticos lastimam o que chamam a "decadência" do PT ou a "perda de seus valores éticos". E fico cá me perguntando, cheio de certezas: não terá sido sempre assim? É que o partido não tinha tido a chance de demonstrar todo o seu talento. As coisas, as pessoas e as instituições não se tornam aquilo que essencialmente não são. Se o PT não tivesse a intimidade fundadora com a corrupção, não teria se deixando corromper. É simples. Tanto a pobreza quanto a riqueza podem gerar o santo e o bandido. A diferença que faz um e outro não está no meio, mas no indivíduo, em suas escolhas. O PT não se transformou nisso que vemos porque o sistema político o forçou a tanto. Dado o sistema político, ele escolheu ser assim.

Pessoas que participaram da fundação da legenda e que a deixaram faz tempo — alguns rompendo pela esquerda; outras, pela direta; outras ainda ficaram apenas enfaradas — relatam que, também em matéria partidária, o menino é o pai do homem; o PT inicial definiu o PT que aí está. Não há contradição nenhuma. Quem quiser maiores esclarecimentos deve procurar saber por que Cesar Benjamin e Paulo de Tarso Venceslau romperam com o partido. Não tenho a menor intimidade ideológica com eles. Mas o que relatam indica que houve apenas uma mudança de escala. Quando menino, o PT tinha uma amoralidade de menino; adulto, tem uma amoralidade de adulto. "Mas é só ele?", logo pergunta um petista tentando dividir o fardo.

Não! A corrupção nasce junto com a política. Nem por isso tem de ser considerada um dado da paisagem. Tentar transgredir as regras do jogo faz parte do jogo. Mas é preciso punir aquele que for malsucedido, aquele que for pego. E quem escapa? Bem, o que a gente não sabe, os cofres públicos sentem, é claro. Mas, se não o sabemos, não há como punir. O mal maior está no malfeito descoberto que resta impune. A impunidade desmoraliza as instituições e rebaixa o padrão de exigências dos cidadãos, tornando-os mais tolerantes com o intolerável.

Por que o PT é um desastre ético para o Brasil? Estaria ele obrigado a ser mais correto do que os outros? Não tem ele também, como refletiu certa feita uma bruxa disfarçada de pensadora de esquerda — ou seja, uma bruxa disfarçada de bruxa —, o direito de fazer das suas, a exemplo das outras legendas? Pra começo de conversa, ninguém tem o direito de fazer a coisa errada. Ocorre que o PT é a única legenda fundada sob a bandeira da "ética na política" — transformando numa espécie de horizonte utópico o que deve ser apenas um meio, um instrumento, da ação política. Atuar politicamente para tornar o mundo "ético" costuma ser a vocação de ditadores. Quem entendia do riscado já percebia ali uma das sementes do que viria.

Partidos políticos dignos desse nome têm projetos de poder e se obrigam a pensar a sociedade no seu conjunto. Não são curas de aldeia, não são bedéis de colégio, não são catecúmenos. Ser ético não é um de seus objetivos, mas construir uma usina pode ser. Ser ético não é um de seus objetivos, mas erguer escolas pode ser. Ser ético não é um de seus objetivos, mas implementar programas sociais pode ser. A ética atravessa verticalmente todos esses temas. É preciso ser ético construindo usinas, escolas e programas sociais. É preciso ser ético para tomar um sorvete — ou você ainda acaba roubando o sorveteiro.

Quando o PT assumiu como bandeira "a ética na política", ele a seqüestrou. Tomando o lema como horizonte, passou a justificar todas as suas ações em nome daquele devir, daquela utopia. Não demorou, e logo começou o esforço para justificar o que não parecia compatível com a sua pureza. Se alguém se torna o dono da ética, tudo o que ele fizer estará imantado por essa vocação. Se o dono da ética é também seu monopolista, está feito: pode mentir, pode roubar, pode matar. A alegoria perfeita para esse comportamento, não tem jeito, é mesmo A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Assim agiram os porcos depois que fizeram a sua revolução contra os fazendeiros bípedes. Com o tempo, os novos donos do poder perceberam que era preciso celebrar a paz com os Sarneys — e, para tanto, foi preciso até eliminar alguns adversários internos.

O PT ainda está convencido de que é dono da ética e que pode usá-la como escudo. O senador Aloizio Mercadante deu a prova inconteste do que digo. Cheio de indignação, em nome da ética, anunciou seu descontentamento com a ordem de Lula para salvar José Sarney e disse que renunciaria à liderança. Horas depois, subia à tribuna de um Senado quase vazio — dos petistas, restou apenas um para ouvir o seu trololó — e anunciava o dia do "Fico". Começou com "aquilo" roxo e terminou com "aquilo" amarelo… Nos dois casos, Mercadante estava sendo "ético".

Eu não tenho grandes ilusões sobre esse partido ou aquele. O que espero é que se organizem para fazer o que tem de ser feito, empregando os tais meios éticos, uma obrigação. Acontece que há na imprensa, não só na brasileira, e em certos setores bem-pensantes a vocação para a mistificação e a mitificação.  Vejo o que se dá agora com Marina Silva.

Os criadores de mitos tentam nos fazer crer que ela rompeu com o PT porque, afinal, já não suportava aquela "ética". É mesmo? Quer dizer que ela suportou bem o caso Waldomiro, o mensalão e o dossiê dos aloprados, mas não resistiu à MP da Amazônia? Podia conviver com a ética que abrigava aquelas práticas e achou que só o suposto desatino do governo na área ambiental é que o tornou impróprio? Posso até achar, como acho, que Marina cria problemas para o PT. Mas não vou aplaudi-la por isso.

Eu não tenho a menor paciência para éticos profissionais. Cedo ou tarde, acabam, a exemplo de Lula, aderindo à Teoria da Bravata.

Friday, August 21, 2009

O Poder Corrompe by Rodrigo Constantino


“O PT se transformou. A proximidade do poder e a necessidade de continuar no poder, em muitas ocasiões, transformam e transtornam as pessoas. Isso faz uma espécie de viseira que você só enxerga um tipo de objetivo: 2010. E tudo tem que estar de acordo para conseguir este objetivo. E aquilo que é importante numa caminhada para se atingir com dignidade o objetivo fica de lado”. Essas foram palavras do senador Flávio Arns, que decidiu tardiamente abandonar o PT por questões éticas. Elas poderiam ser resumidas pela constatação que Lord Acton fez no século XIX: “O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Infelizmente, muitos ainda não compreenderam esta fundamental lição. Sonham a cada dia com o messias salvador, o “bom revolucionário” que vai chegar ao poder e usá-lo de forma correta, sábia e honesta. Doce ilusão! O alvo deve ser justamente a existência de tanto poder concentrado no Estado. Como Hayek disse, não é a fonte, mas o limite do poder que o previne de ser arbitrário. Benjamin Constant também tinha chegado a esta conclusão, alertando que é contra a arma e não contra o braço que convém ser severo, ou seja, devemos acusar o grau da força, não os depositários dessa força. Alimentar a esperança de que algum dia um santo chegará ao poder para fazer milagres é uma tolice.

O Estado tem representado uma espécie de deus moderno para muitos, que depois não entendem o motivo de tanto abuso de poder por parte dos políticos. Ora, políticos são seres humanos também, e normalmente os de pior qualidade. Claro que delegar enorme poder a eles será sempre terrível. Como disse o poeta alemão Friedrich Höelderlin: “O que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso”. Em vez de ficar sonhando com o messias salvador, está na hora do povo acordar para a realidade, a abraçar a causa liberal, que luta justamente para reduzir e limitar o máximo possível o próprio poder concentrado no Estado.

“O que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso”. by Friedrich Höelderlin

Thursday, August 20, 2009

Uma lágrima para Hildegard Behrens

 
 

Sent to you by guga via Google Reader:

 
 

via Daniel Piza by Daniel Piza on 8/20/09

Meu colega João Luiz Sampaio já celebrou Hildegard Behrens, mas eu não poderia deixar de verter a lágrima para a melhor Salomé que já escutei. Infelizmente, não a encontrei na internet na versão que Karajan regeu da ópera de Richard Strauss, mas apenas na Elektra com James Levine, quando sua voz já não era a mesma. De qualquer forma, Bernard Shaw deve ter tentado sair do túmulo só para escutá-la:



 
 

Things you can do from here:

 
 

William James

"The greatest discovery of my generation is that a human being can alter his life by altering his attitudes of mind."

O Resultado do Banco do Brasil

>O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou tão feliz com o resultado do Banco do Brasil que convocou uma entrevista coletiva, alertando que "se os bancos privados não seguirem o exemplo dos bancos públicos, vão começar a comer poeira". Nunca antes na história desse país alguém tão medíocre ocupou cargo tão importante. Boa parte do crescimento do lucro veio do aumento na carteira de crédito ao consumo, que passou a representar dois terços da carteira total do banco. Chega a ser temerário um ministro da Fazenda celebrando e estimulando dessa maneira o aumento do crédito ao consumo, que apenas transfere consumo futuro para o presente, podendo inclusive criar uma bolha artificial.

Mas a obsessão do governo com o imediatismo é total, já que "no longo prazo estaremos todos mortos". O que importa é estimular o crescimento do PIB até 2010, ano de eleição. Será que a crise mundial recente não ensinou nada aos governantes sobre estímulo artificial ao consumo corrente, sem lastro em poupança real? Os bancos que expandiram crédito de forma acelerada nos Estados Unidos foram os heróis por alguns anos, apenas para deixarem um rombo gigantesco depois, obrigando os pagadores de impostos a tampar o buraco. Não custa lembrar que o próprio Banco do Brasil já quebrou algumas vezes no passado, necessitando de injeção de dinheiro dos "contribuintes".

Nada disso parece importar muito para o ministro. O Banco do Brasil voltou a ser o número um em ativos, e isso é o suficiente. Não importa também que o Itaú Unibanco, com menos ativos, tenha um valor de mercado duas vezes maior que o Banco do Brasil (R$ 128 bilhões contra R$ 65 bilhões), mostrando que cria muito mais valor para seus acionistas. Não vem ao caso também que o Itaú Unibanco consiga isso com 65 mil funcionários, contra 82 mil funcionários do Banco do Brasil (últimos dados disponíveis nos balanços). Falar em eficiência é irrelevante quando o foco é o tamanho. Freud explica.

Por fim, gostaria apenas de registrar mais um caso de esquizofrenia em nossa esquerda. Afinal, os esquerdistas detestam os banqueiros, mas adoram o maior banqueiro de todos, que é o próprio governo. Melhor não cobrar lógica dessa turma...

Eles fugiram da escola, escaparam da cadeia e já governam o Senado by Augusto Nunes

Parece que foi há muitos séculos, e no entanto faz menos de 20 anos. No começo de 1990, já não era numericamente desprezível o bloco dos senadores cujo prontuário implora por longas temporadas na cadeia, em regime de estudos forçados. Mas havia vida inteligente e homens de bem no Senado. Os melhores e os mais capazes conseguiam, simultaneamente, enquadrar os imbecis sem remédio, manter os delinquentes sob estreita vigilância, conduzir a instituição e garantir-lhe a independência. Eles sabiam remover tumores que colocassem em risco valores morais irrevogáveis. Nada a ver com a Casa do Espanto que Lula criou e o clube dos cafajestes agora administra.

O presidente nem tentaria fazer em 1990 o que anda fazendo há meses com um Senado em estado terminal. Mesmo que tivesse atingido os 103% de popularidade prometidos pelos institutos de pesquisa, logo saberia com quem estava falando. O mais loquaz dos governantes perderia a fala no segundo minuto de conversa com Afonso Arinos ou Roberto Campos. O capitão-do-mato não iria além da primeira grosseria se o aliado fosse Darcy Ribeiro. O palanqueiro debochado não se atreveria a insultar oposicionistas como Mário Covas ou Franco Montoro.

É por saber com quem está falando que Lula humilha antigos companheiros e ofende adversários. Sabujice não inspira respeito. Não se teme o revide que não virá. É por saber com quem está lidando que Lula abençoa a base alugada com salvo-condutos, absolvições sumárias, agrados retóricos e presentes em dinheiro. Não há um acordo político entre o ex-sindicalista que ficou moderno e os velhos oligarcas que se tornaram menos antigos. O que houve foi um acerto entre um presidente deslumbrado e gente que se alia a qualquer governo para manter-se no poder e ganhar muito dinheiro com a corrupção institucionalizada.

Quem acompanhou na terça-feira o depoimento de Lina Vieira e, nesta quarta, a sessão do Conselho de Ética viu em ação um bando fora-da-lei, esbanjando truculência e cinismo no cumprimento de missões confiadas pelo chefe. A quadrilha do faroeste subjugou o lugarejo. O presidente honorário é José Sarney. Paulo Duque comanda o Conselho de Ética. Romero Jucá lidera a bancada do governo e é o relator da CPI da Petrobras presidida pelo suplente amazonense. Renan Calheiros chefia a base alugada. Fernando Colllor comanda uma comissão. Abjeções como Wellington Salgado e Almeida Lima aceitam qualquer encomenda. Tudo parece dominado.

O PT foi reduzido por Lula a duas consoantes descartáveis. A líder do governo no Congresso é Ideli Salvatti, um berreiro à procura de uma ideia. O líder da bancada é Aloízio Mercadante, promovido a Herói da Rendição por atos de bravura em defesa de capitulações ultrajantes. Nesta semana, constatou-se que aprendeu com Eduardo Suplicy a fazer de conta que acha intragável o que não para de engolir.

Para fazer de conta que não gostou da absolvição de Sarney, crime que ajudou a tramar por ordem de Lula, colocou o cargo à disposição da bancada. O cargo sempre esteve, está e estará à disposição da bancada. Quem finge não saber disso topa qualquer negócio para ficar. Quem quer sair se demite ─ e em caráter irrevogável. Por acharem que há limite para tudo (e por lembrarem que a eleição vem aí), os senadores Flávio Arns e Marina Silva deixaram o partido. Os que permanecerem no rebanho pastoreado pela quadrilha são comparsas.

O Senado em decomposição ensina que só os cretinos sem cura e os farsantes juramentados dividem o Brasil em esquerda e direita, soldados do povo e carrascos da elite. O que se vê é um país que acredita na democracia, ama a liberdade e respeita a lei ameaçado pela ofensiva do primitivismo. Para os dirceus e berzoinis, os burgueses malandros são apenas companheiros de viagem que encurtam o caminho que conduz ao paraíso socialista. Para os renans e jucás, os comunistas de araque são apenas os sócios do momento. Os casos para psiquiatra e os casos de polícia só acham antiético perder a eleição e a gazua. Todos têm como objetivo comum o arrombamento dos cofres federais.

É hora de cortar-lhes o avanço. O general parece invencível? A tropa parece crescer em tamanho e agressividade? A maioria parece satisfeita com a vida não vivida? Não importa. Movimentos de resistência nunca tomam forma no ventre da multidão. Não é preciso nascer grande para ter força. Basta ter razão.

Tuesday, August 18, 2009

Eight Reasons Why Big Government Hurts Economic Growth

A pena de morte em vigor by Estado de Sao Paulo

Sabia-se que o sistema carcerário brasileiro é péssimo. Mas não que fosse tão ultrajante à vida e à dignidade humana, como testemunharam os que trabalharam nos mutirões carcerários promovidos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que no período de um ano libertou 4.781 pessoas indevidamente presas - conforme reportagem publicada sábado pelo Estado. Os exemplos são escabrosos, mas não há como fugir deles, pois só assim se tem a noção real de a que ponto chegou a falência de um sistema, envolvendo muitas instituições públicas.

Em um ano o CNJ examinou 28.052 processos em 13 Estados e terminou por libertar 17,36% do total de presos cuja situação jurídica foi analisada, inclusive 310 menores. Uma parte dos presos já havia cumprido a pena, mas permanecia encarcerada; outra parte tinha direito à progressão da pena e outra parte estava presa sem processo algum, sem acusação, ou esperava há anos um julgamento - uma tragédia surrealista ilustrada pelo desabafo de um presidiário que pediu a um juiz do CNJ: "Doutor, eu tô preso há 2 anos, 7 meses e 1 dia e não fui julgado ainda. Eu acho que tenho o direito de sentar na cadeira do réu."

Mas esse não foi o pior caso. Os juízes do CNJ descobriram um homem encarcerado no Ceará há dez anos, sob acusação de homicídio, mas cujo processo havia, simplesmente, desaparecido. No Espírito Santo descobriram outro que ficou 11 anos preso sem nunca ter sido julgado. E aí vêm exemplos de situações horripilantes de presidiários brasileiros: no Amazonas, um preso paraplégico é deixado no chão deitado, com as nádegas feridas pela falta de movimentos, e quando precisa ir ao banheiro grita para que o carcereiro o leve. Se não chegam a tempo, urina e defeca deitado e continua deitado à espera de alguém para limpá-lo. No Espírito Santo, 256 presos instalaram três andares de rede para ocupar uma cela destinada a apenas 36 pessoas. Alguns passam dias deitados, por não haver espaço para ficarem em pé. No Maranhão estourou uma rebelião tendo por principal reivindicação dos detentos o abastecimento de uma caixa d?água para que voltassem a tomar banho - depois de dias. No centro de custódia para menores no Espírito Santo um dos garotos vomita seguidamente por não suportar o cheiro das fezes que ficam armazenadas no canto do contêiner em que fica preso.

É preciso mais para concluir que a dignidade humana tem sido totalmente destruída em nosso sistema carcerário?

Na Bahia a Defensoria Pública descobriu, no fim de 2008, que a polícia do Estado estava adotando uma prática típica dos tempos da ditadura: a prisão para averiguação de qualquer pessoa suspeita de ter cometido um crime, sem que a polícia comunicasse, como manda a lei, a ocorrência ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Justiça. Em entrevista ao Estado, o magistrado responsável pela coordenação dos mutirões do CNJ, Erivaldo Ribeiro dos Santos, entre outras "surpresas" descobertas destaca o volume das "penas vencidas", que jamais imaginaria tão grande. "A pena vencida é mostra de um descontrole total", diz ele. "É uma falha do sistema de justiça criminal, sistema que é composto pela polícia, pela administração penitenciária, pelas Secretarias da Justiça e da Segurança, pela Defensoria Pública, pela defesa em geral, incluída a OAB, pelo Ministério Público, pelos juízes que atuam nas Varas Criminais. Essas pessoas estão presas pela burocracia do sistema, pela irracionalidade do sistema, que não é inteligente a ponto de indicar ao juiz que tal preso está com a pena vencida ou que tem direito a um benefício."

E o mesmo magistrado sintetiza a tragédia do sistema carcerário: "Algumas de nossas prisões são uma sentença de morte. Ninguém merece ficar um dia ali. Essa forma de encarceramento é uma hipocrisia. Nós, que não aceitamos a tortura, a pena de morte, vemos que algumas de nossas formas de encarceramento são uma tortura, uma pena de morte lenta, gradual e sem morfina. Esses não são mais relatos da academia. São constatações do CNJ."

É de esperar que essas oportuníssimas constatações do Conselho Nacional de Justiça signifiquem, pelo menos, o início de uma conscientização que leve à rápida reversão desse estado de coisas, vergonhoso para qualquer país minimamente civilizado.

Oklahoma-Great story about Dad and son.....by Billy Gillman

Oklahoma-Great story about Dad and son.....by Billy Gillman

AQUARELA by TOQUINHO

Since we do nothing in this confuse...by Fernando Pessoa

Since we do nothing in this confused world
That lasts or that, lasting, is of any worth,
And even what?s useful for us we lose
So soon, with our own lives,
Let us prefer the pleasure of the moment
To an absurd concern with the future,
Whose only certainty is the harm we suffer now
To pay for its prosperity.
Tomorrow doesn?t exist. This moment
Alone is mine, and I am only who
Exists in this instant, which might be the last
Of the self I pretend to be.

Democracy and socialism

Democracy and socialism have nothing in common but one word, equality. But notice the difference: while democracy seeks equality in liberty, socialism seeks equality in restraint and servitude.

Billy Gilman singing Ben

Monday, August 17, 2009

Não sei quantas almas tenho by Fernando Pessoa


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê.
Quem sente não é quem é.

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo,
É do que nasce, e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só.
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo, «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.

Sunday, August 16, 2009

Driving In The Atlantic Jungle In Rio

Lula and his squabbling friends From The Economist


Lula and his squabbling friends

From The Economist
A bold Brazilian attempt to integrate South America has run into difficulty. Critics at home say Brazil should put national interest over leftist ideology

Illustration by David Simonds

WHEN the leaders of the Union of South American Nations (UNASUL in Portuguese), a 12-country group inspired by Brazil, met in Ecuador’s capital, Quito, on August 10th, there was little spirit of union. Their meeting followed a row between Venezuela and Colombia, whose president, Álvaro Uribe, did not attend, in part because Ecuador broke off diplomatic relations with his country last year.

Hugo Chávez, Venezuela’s president, backed by his allies, Bolivia and Ecuador, wanted to condemn Colombia for granting facilities at seven military bases to the United States, which is helping it battle guerrillas and drug-traffickers. “Winds of war are blowing,” he thundered. Four countries, including Chile and Peru, backed Colombia. Brazil’s president, Luiz Inácio Lula da Silva, tried to damp down the dispute, suggesting that the group meet both Barack Obama and Mr Uribe to seek reassurances about the use of the bases. But then Mr Chávez launched a diatribe against Colombia and Mr Obama. Lula cut short his visit to Ecuador and headed home, giving warning that UNASUL could “cease to be an integration process, becoming just a group of friends.” If only.

This fiasco provides fuel for both sides in a long-running debate in Brazil about the foreign policy of the Lula government. The critics, who include several senior former diplomats, accuse the government of placing ideology above Brazil’s national interest—especially in policy towards South America.

Lula’s predecessor, Fernando Henrique Cardoso, sought to boost trade and other ties with the United States and Europe. On taking office in 2003, Lula placed new stress on south-south ties. Brazil has doubled the number of its embassies in Africa, to 30, and joined or set up a clutch of new clubs. These include IBSA, with India and South Africa, of which Itamaraty, the foreign ministry, is especially proud.

As evidence that this policy has borne fruit, Celso Amorim, the foreign minister, points out that most of Brazil’s trade is now with developing countries, thus anticipating Mr Obama’s advice that the world should not rely on the United States as consumer of last resort. He concedes that Brazil does not agree with the other big emerging powers on everything, but they do share an interest in trying to change the way that international institutions and the world economy are run.

The critics see in some aspects of the government’s diplomacy an implicit anti-Americanism. Lula got on well with George Bush even while disagreeing with many of his policies. Brazil’s relations with the United States are correct, but oddly distant. Lula retains a soft spot for Cuba, perhaps because Fidel Castro helped him and his party when they were struggling against a military regime which, at its outset at least, had American backing.

But the anti-Americanism comes from some aides more than from the president himself. He has promoted ultranationalists within Itamaraty. He gave responsibility for South America to Marco Aurélio Garcia, the foreign-relations guru of his Workers’ Party. This was one of Lula’s many balancing acts, compensating his left-wing base for its disappointment that he ignored them on economic policy.

Brazil has successfully led the UN mission to stabilise Haiti. But in Lula’s first term his advisers seemed to think they could integrate South America, against the United States and from the left. Several South American countries do not share their anti-Americanism. (One former Lula adviser derides them as “boy scouts” and as the equivalent of the collaborationist Vichy regime in wartime France.)

Brazil embraced Hugo Chávez’s Venezuela, inviting it to join the Mercosur trade block. The naivety of this approach became apparent when Bolivia, at Mr Chávez’s urging, nationalised the local operations of Petrobras, Brazil’s state-controlled oil company. In what has been called the “diplomacy of generosity” towards left-wing governments in its smaller neighbours, Brazil agreed to pay more for Bolivian gas. Last month it similarly agreed to pay Paraguay more for electricity from Itaipu, the hydroelectric dam they share.

By common consent, policy towards South America has become more pragmatic in Lula’s second term. In particular, Brazil’s relations with Colombia have improved. Brazilian diplomats say privately that their aim is to contain and moderate Mr Chávez. But Lula has often seemed to endorse him. Would Brazil ever criticise Mr Chávez for endangering democracy? “It’s not the way we work,” says Mr Amorim. “It’s not by being a loudspeaker that you change things.” Yet Brazilian officials were not shy about criticising Colombia’s military agreement with the United States.

Their critics argue that Brazil should seek to integrate South America on the basis of rules, rather than political sympathy, and that by proclaiming regional leadership it risks becoming the target of regional grievance. They also question the utility of UNASUL and its first project, a South American Defence Council. “To defend against what?” asks Mr Cardoso. Brazil’s armed forces did not propose the defence council, nor do they see the American presence in Colombia as a threat. “The United States isn’t attacking Latin America. Chávez threatens, he’s not being threatened,” says Mr Cardoso.

Thursday, August 13, 2009

O buraco negro da manipuladura by AUGUSTO DE FRANCO



A democracia também não tem proteção eficaz contra o uso de procedimentos democráticos (como as eleições) contra ela própria


A DEMOCRACIA surgiu na velha Grécia como um movimento de desconstituição de autocracia. O motivo fundante foi evitar a volta de tiranias como a dos psistrátidas.
Para tanto, foram criados procedimentos e mecanismos que, mal ou bem, cumpriram sua função nos cem primeiros anos da experiência. Reinventado pelos modernos, o software democrático manteve ativa tal funcionalidade. De sorte que, nos últimos dois séculos, as democracias floresceram, e as ditaduras feneceram.
Péricles e seu "think tank" ateniense (o núcleo do "partido" democrático ao qual pertenciam Protágoras e Aspásia) já haviam se dado conta em meados do século 5º antes da era comum que a democracia nascia com um defeito genético: ela não tinha proteção eficaz contra o discurso inverídico. E ainda não tem: contra um Címon jactante ou contra um Sarney resiliente (na mentira), pouco podem as regras da democracia.
Não se deram conta, porém, os fundadores, de que a democracia tinha outro gene defeituoso, que só foi ativado recentemente, após a última onda democratizante do século 20, que sepultou as ditaduras latino-americanas (com exceção de Cuba) e os regimes autocráticos da ex-URSS e do Leste Europeu.
Esse gene recessivo revelou-se como um erro de projeto: a democracia também não tem proteção eficaz contra o uso de procedimentos democráticos (como as eleições) contra ela própria.
O primeiro pensador democrático a antever os efeitos devastadores do uso da democracia contra a democracia foi John Dewey, que percebeu as armadilhas da sua instrumentalização a serviço da conquista do poder de Estado. E o último a teorizar sobre isso com consistência foi, sem dúvida, Ralf Dahrendorf, que constatou que apenas a eletividade não é um critério capaz de garantir a legitimidade dos regimes tidos por democráticos.
O fato é que uma nova onda autocratizante começou a se avolumar após o breve sopro democrático dos anos 80 e 90. Agora as ameaças à democracia não vêm mais das ditaduras clássicas, em que grupos autoritários empalmavam o poder por golpes de força. Não, agora elas vêm de governos eleitos por larga maioria que, depois, ocupam e pervertem as instituições da democracia para controlá-las.
São governos que foram, sim, eleitos democraticamente, mas para conseguir um aval para não governar democraticamente. Suas primeiras providências são perseguir os meios de comunicação e abolir a rotatividade democrática.
São as protoditaduras, como as que se instalaram na Federação Russa, na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua. E a inclusão virtual do Paraguai, de Honduras e de El Salvador nessa lista evoca o "efeito dominó".
Pode-se dizer que, com exceção da Rússia, a grande "autocracia do petróleo e do gás", são, todos eles, Estados-nações inexpressivos.
É verdade, mas o problema é que essas protoditaduras são apoiadas politicamente por uma retaguarda importante ("mais civilizada", nem que seja por força da maior complexidade das suas sociedades), composta por democracias formais parasitadas por governos neopopulistas manipuladores, como Brasil e Argentina. Estas representam um fenômeno lateral na nova onda autocratizante, para o qual a análise política ainda não cunhou um termo: na falta dele, caberia designá-las, com perdão do neologismo, de "manipuladuras".
Menos mal para nós que Lula não seja um Putin (agente de um "partido" de assassinos, a KGB, sob o silêncio cúmplice do mundo) ou um Chávez (promotor de uma revolução bolivariana, inclusive financiador de ações de luta armada, também sob o silêncio irresponsável do mundo).
Péssimo para nós que nosso presidente continue prestando apoio político aos próceres do bolivarianismo e a seus pupilos (como agora a esse caudilho Zelaya). Se os governantes de um país importante como o Brasil podem entrar na nova onda autocratizante, mesmo que na sua retaguarda política -e ninguém diz nada, porque, convenhamos, oposição de verdade não há por aqui-, estamos correndo sério risco: nós e as demais sociedades latino-americanas que ainda não tombaram nesse "efeito dominó".
Será apenas uma questão de tempo a degeneração completa das nossas instituições -que, aliás, já começou.
Hoje o Senado, a Petrobras e órgãos de Estado como as agências reguladoras e o Itamaraty, os fundos de pensão, parte das ONGs. Amanhã, quem sabe, outros níveis de governo, demais Legislativos, Ministério Público e Judiciário. Vai tudo ser engolido pelo buraco negro da manipuladura.